30 de nov. de 2015

Bolhas anti-terror

Esse texto deveria ser escrito assim que assisti o filme “Homem Irracional” do Woody Allen. Saí do cinema impressionada com um protagonista que só reencontrou um significado para sua vida na possibilidade de assassinar alguém. Nem o relacionamento dele com Emma Stone no filme teve esse poder. Hoje vejo que estava CEGA e a história era sintomática dos tempos de terror em que vivemos.

Não estou falando (só) de Paris. Penso nos pequenos ataques diários dos homens e mulheres bombas que viramos. A discussão deixou de ser saudável faz tempo. Hoje somos extremistas frente (e contra) todos os que pensam e fazem diferente.

Esses dias, fui atravessar a rua (uma esquina) com 3 crianças. Havia faixa de pedestres, não vi carro por perto e dava tempo pelo farol, ainda vermelho. No meio da faixa, um carro quis aproveitar que o farol da rua dele amarelava e virou com tudo, brecando a meio metro de mim e da última criança. Assustamos, mas seguimos. Recebemos gritos me chamando de IRRESPONSÁVEL que ecoaram pela Nazaré Paulista. Como explicar para meus sobrinhos que não estávamos errados. Então por quê aquilo? Por andar a pé numa cidade pra carros?

Semana passada o vizinho da minha casa (geminada) foi assaltado. Ele tem grades na janela, eu não. Naquela noite, minha porta da cozinha dormiu aberta e meu carro com a chave dentro (ok, ok, hoje não mais). Ele quer mudar de país porque odeia o Brasil enquanto eu me recuso a viver com medo. Não contei do assalto para meus pais (agora vão saber) nem para meu filho. E por que moro numa casa pé na rua? Porque com certeza sou LOUCA, INGÊNUA e SORTUDA.

Há quase dez anos sou mãe e prefiro criar o Lô dizendo que o mundo é bom, belo e verdadeiro. Sei que ele pode até não ser (sorry, Steiner, a coisa mudou muito). Mas se meu filho acreditar nisso na infância, quando tiver maturidade vai lutar para mudar o que vir de errado. Preciso enxergar a metade cheia do copo para mostrar a ele. Preciso desligar a TV e editar o que eu quero que ele veja. E acabei criando uma bolha deliciosa, que ainda não furou porque ele não tem acesso às redes sociais e seus ataques diários. Aquelas de gente amiga querendo se matar.

Não sou contra a internet, mas contra o ódio que polariza as pessoas. Mobilização é incrível e faz parte do copo cheio. Assim como exigir justiça, melhorar a igualdade social e de gêneros, cobrar políticos e ocupar escolas. Nas histórias, é quando o super-herói fica puto que ele reage e ganha. Mas isso é bastante diferente de odiar alguém a ponto de querer matar a pessoa. E hoje nem a presidente do país escapa a esse ódio mortal.  Mãe, o que é linchamento?

E você? Já ficou com ódio de mim por esse texto? Normal. Sorte que minha bolha é à prova dele. Também preciso te dizer que conheço mais gente IDIOTA feito eu. Gente que você pode até tentar empurrar pro poço do elevador mas, como no filme, (spoiler!) pode estar mais a salvo do que você.




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